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Alexa, como ordenhar uma vaca? Isso é com a Rúmina

17/12/2021

"A Alexa nunca ordenhou uma vaca. Então, a gente precisa da Rúmi". Em tom de brincadeira (mas nem tanto), Marcelo Lima, sócio da SK Tarpon responsável pela 10b — a gestora que lidera os investimentos em agro — ilustra as ambições da Rúmina, um ecossistema para pecuária recém-criado, abrigando sob um mesmo guarda-chuva as diversas soluções que vinham recebendo aportes do fundo nos últimos anos.

Aproveitando a união das investidas da 10b dedicadas à pecuária, a Rúmina nasceu com uma base de dados parruda, com informações de 7 mil fazendas e um rebanho leiteiro de 1,3 milhões de vacas, o que já permitiu a criação da Rúmi, uma inteligência artificial que ajuda a estimar as chances de cura de um animal com mastite, avalia o risco para concessão de crédito a pecuaristas e gera insights para melhorar a produtividade na fazenda.

As soluções reunidas na Rúmina devem fazer uma receita recorrente (ARR, a sigla mais usada no mercado) de R$ 30 milhões em 2022, mas a aposta na tese está só no começo. "Temos duas conversas avançadas para aquisições, uma para anunciar já começo do ano e outra durante o primeiro semestre", diz Lima. Até aqui, a 10b construiu o ecossistema praticamente, sozinha — com os recursos dos investidores do veículo da gestora —, mas a atração de outro fundo como sócio é uma possibilidade.

A construção da Rúmina começou há dois anos, quando a 10b fechou a aquisição da OnFarm, uma startup que desenvolveu um sistema de diagnóstico rápido de mastite, doença que mais gera perdas ao rebanho, desperdiçando leite e gastando com antibióticos sem necessidade.

Fundada por Laerte Cassoli — um agrônomo criado em uma fazenda no interior que fez carreira no maior laboratório de análise de leite do país, até sair para empreender —, a OnFarm oferece um hardware por assinatura aos produtores. A partir desse equipamento, uma espécie de mini laboratório dentro da fazenda, o leite é aplicado em um meio de cultura. Após 24 horas, a cor indicará se é preciso tratar a vaca com antibiótico e descartar o leite.

"Muitas vezes, a própria vaca já combateu a bactéria e você nem precisa aplicar antibiótico", explica Lima. Apenas neste ano, a tecnologia da OnFarm evitou o uso de quase 230 mil doses de antibióticos e o descarte de 7 milhões de litros de leite, o que se traduziu em uma economia de R$ 17 milhões. Grandes laticínios — Piracanjuba, Danone, Lactalis, Vigor e Verde Campo (da Coca-Cola) — subsidiam o uso da solução para a rede de fornecedores de leite.

Com o desenvolvimento da Rúmi, a plataforma criou uma nova camada para a solução da OnFarm. Se antes a decisão do que fazer com o diagnóstico da mastite ficava na fazenda, agora basta o envio de uma foto com o resultado para que a inteligência artificial ofereça uma sugestão de tratamento — quando necessário. "A análise da imagem digital tem uma precisão de 97,8%, que é maior que a do olho humano", disse o sócio da SK Tarpon.

O ecossistema da Rúmina também inclui o Ideagri, um software de gestão especializado em fazendas de leite comprado pela 10b em 2020. Das 100 maiores produtoras de leite do país, 80 pagam a assinatura do produto, que funciona no modelo de Software as a Service (SaaS). Recentemente, a Rúmina também criou a Bovitech, um spin-off da Ideagri voltado para fazendas de gado de corte.

Os investimentos da 10b na Rúmina também incluem IOT. Gestada da Universidade Federal de Viçosa, uma referência em agronomia, a Volutech também passou a fazer parte do ecossistema recentemente. A startup criou um sensor que monitora, em tempo real, a qualidade do leite nos tanques das fazendas.

"Antes, o laticínio só checava o volume e a temperatura do leite no momento da coleta, mas não sabia o que tinha acontecido antes", diz Pedro Peixoto, sócio da 10b responsável pelo investimento na Rúmina. O próximo passo da tecnologia é instalar sensores nos caminhões dos laticínios, acompanhando todo o ciclo logístico desde a matéria-prima até o processamento.

Com a base de dados, a Rúmina criou uma fintech — a RúmiCash. A ideia é financiar os produtores, seja antecipando os recebíveis de leite ou fazendo empréstimos de curto prazo. Por enquanto, o funding ainda vem de parceiros, mas a startup já se estrutura para levantar recursos, eventualmente captados por FIDC. Atualmente, a carteira de crédito da RúmiCash soma R$ 1 milhão.

"O diferencial da fintech é que ela nasceu dentro do nosso ecossistema. Temos um score de crédito proprietário, com uma metodologia que aprova o crédito em dez minutos", disse Peixoto. Com um universo de 300 mil clientes potenciais, a Rúmina vislumbra um negócio bastante rentável.

Na 10b — nome em alusão à população de 10 bilhões de pessoas que precisará ser alimentada no mundo em 2050 —, a Rúmina é a maior aposta em pecuária. Em agricultura, a gestora é a maior acionista da Kepler Weber, com uma participação avaliada em R$ 250 milhões, e também investe na Agrivalle, de bioinsumos, e na Seedz, um programa de fidelidade.

Fonte: Valor Econômico