O primeiro semestre de 2022 chamou a atenção para o avanço nos valores dos derivados lácteos. Mas uma análise mais criteriosa mostra que há um processo de pelo menos doze anos de elevação dos custos de produção acima da inflação geral da economia.
A comparação entre o IPCA e o ICP-Leite da Embrapa nos mostra que, desde 2011, existe um descolamento entre o avanço dos custos para produção de leite e o aumento dos valores dos demais itens da economia. Os valores envolvidos com a produção de leite crescem em velocidade maior que a média geral.
Nesse cenário, a retração econômica e a perda de renda dos mais pobres dificulta o repasse dos custos ao consumidor. Mesmo com os preços ao produtor acompanhando os custos, o setor produtivo como um todo não tem conseguido manter as taxas de crescimento do passado. Neste ano, o primeiro trimestre apresentou uma queda inédita de mais de 10%, e é provável que terminemos o ano uma retração de 7-8% — novamente, inédita.
Custos em alta estrutural e corrosão da renda do consumidor mudam as perspectivas do crescimento da atividade. De 2000 a 2014, tivemos uma forte expansão da base de consumo de leite, motivada pelo aumento da renda e por custos de produção que mantinham o produto competitivo para o consumidor. Esse período acabou — não há mais o leite barato do passado.
O resultado disso é um novo equilíbrio entre oferta e demanda. Foi-se o tempo em que mirávamos os 200 kg de leite/habitante/ano. Nossas estimativas sugerem que devemos fechar o ano com pouco mais de 150 kg. Este é o valor que tínhamos em 2009. O mercado total por volume, que inclui o aumento populacional, retorna a níveis de 2010-2011. Esse é o tamanho do ajuste.
E o que você, agente da cadeia láctea, fará a partir destas informações? Como lidar com um setor menor, mas que pode ser mais competitivo e mais alinhado às demandas do consumidor?
Fonte: milkpoint