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Produtos lácteos e a alimentação escolar

26/06/2018

Em geral, são em momentos de dificuldade financeira que procuramos alternativas para entender de onde viemos, onde estamos, para onde queremos ir. Para analisarmos estas questões necessitamos de informações. Há tempos procuro dados atualizados por meio de artigos ou publicações sobre o tamanho do mercado dos produtos lácteos na alimentação escolar e nunca os encontrei com a confiabilidade necessária.

Assim, resolvi dedicar quatro meses de minha vida e coletar informações nos mais diversos locais possíveis em busca de um horizonte que possa orientar produtores, agricultores familiares, empresas, cooperativas e a população em geral.

A alimentação escolar é uma das políticas públicas mais antigas da nação brasileira, bem como a produção de leite e seus derivados, alimentos muito importantes para as crianças, adultos e idosos.

A necessidade de informações fidedignas para a tomada de decisões, associadas à velocidade de mudanças do mercado lácteo, e a urgência quanto à evolução dos modelos de gestão de empresas e cooperativas, fazem deste trabalho uma ferramenta de diagnóstico da realidade e uma oportunidade para subsidiar futuras decisões sobre políticas públicas na cadeia do leite.

O levantamento de informações sobre a cadeia do leite é de extrema complexidade, dado o seu tamanho, os diversos elos associados e ainda, neste caso especifico, a dificuldade de compilar as mais diversas informações referentes ao setor.

As informações aqui apresentadas foram solicitadas ao FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) com o objetivo de quantificar oficialmente valores e quantidades de produtos lácteos que são comercializados entre os anos de 2013 e 2016, uma vez que o ano de 2017 ainda não foi fechado.

Gráfico 1 – Dez produtos lácteos mais comercializados na alimentação escolar, a porcentagem a que equivalem e seus respectivos valores entre os anos de 2013 e 2016.

O gráfico 1, bem como a tabela 1 demonstram claramente os dez produtos lácteos mais comercializados dentro da alimentação escolar a nível do Brasil.  De forma imponente e significativa, o leite de vaca integral, em pó, representa 42,39% de  toda a aquisição de produtos, representando mais de 800 milhões de reais entre os anos de 2013 e 2016.

O leite pasteurizado, vulgo barriga mole, ocupa a segunda posição com 10,37%, representando um valor aproximado de 200 milhões de reais. O terceiro lugar é ocupado pelo leite de vaca integral UHT, com 8,58%. A 4ª posição é ocupada por iogurtes de diversos sabores, com exatos 6,36% de todas as compras efetuadas entre os anos de 2013 a 2016.  O quinto lugar fica representado pelas bebidas lácteas de diversos sabores - 5,95% - com mais de 133 milhões de reais sendo investidos nesta área.

A sexta colocação dos produtos lácteos que mais foram comercializados com o FNDE é ocupada pelo leite de vaca integral com 4,28%. A sétima colocação é ocupada pelo leite de vaca desnatado em pó, que representou 2,78, com quase 53 milhões de reais adquiridos em produtos.  O oitavo produto é o composto lácteo em pó, que representou 2,73%.

A nona colocação é ocupada pela bebida láctea, misturada em pó, que representou 2,54%. A décima colocação é ocupada pelo queijo muçarela que representou apenas 1,31%.  

É importante ressaltar que a classificação dos produtos aqui discutidos foram  idealizados e efetivados  como referências pelo FNDE, não cabendo ao consultor que aqui escreve criticar ou unificar itens, que possuam mesma definição ou extrema semelhança.

Chega a ser assustador a quantidade expressiva da aquisição do leite em pó, para a alimentação escolar, o que enfraquece consideravelmente o pecuarista e, principalmente, o agricultor familiar.

O leite em pó permite ser estocado por longos períodos de tempos, favorecendo o desenvolvimento das atividades das escolas bem como das cantineiras. Mas a necessidade da criação de oportunidades para os mercados locais ou até mesmo os agricultores familiares possibilitam uma nova oportunidade de agregação de valores.

Em geral, a comercialização do leite em pó é realizada por grandes empresas que compram a matéria-prima dos pequenos agricultores, a processa e, posteriormente, a comercializa com a entidade pública. Neste sentido a agregação de valor fica completamente com a indústria de grande porte e o produtor somente com a entrega de matéria-prima. Existe ainda o fato de os mercados institucionais em geral proporcionarem aos seus vendedores preços acima da média. Este recurso financeiro acaba ficando com os grandes laticínios e enfraquecendo os produtores familiares. 

Tabela 1 – Especificação do produto, valores comercializados e percentuais que equivalem dentro dos produtos lácteos entre os anos de 2013 e 2016.

 

No sentido de avaliar a representatividade dos 10 produtos mais comercializados, verifica-se que eles equivalem a 87,29% de todos os produtos lácteos que são adquiridos para a alimentação escolar, proporcionando um total de R$ 1.661.698.099,54, sendo uma inserção significativa e representativa de recursos públicos na economia nacional.

A substituição gradual do produto leite de vaca integral em pó por leite pasteurizado promoveria uma maior possibilidade de desenvolvimento e oportunidade de negócio regionalizado e para a agricultura familiar. Porém, a agroindústria de pequeno porte não é capaz de fornecer o leite pasteurizado, diferentemente do leite em pó e o leite UHT, devido aos altos valores de investimentos necessários.

Portanto, conclui-se que existem diversas informações que, quando analisadas de forma correta, fornecem subsídios às empresas, cooperativas e produtores rurais com o intuito de geração de receita e melhoria da qualidade de vida dos que, a cada dia mais, vivem com as receitas extremamente apertadas. 

Autor do artigo: Moisés Soares, médico veterinário e mestre em reprodução animal pela Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS. 

Fonte: MilkPoint