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A otimista recuperação da economia brasileira traz ambiente benéfico para o cooperativismo

22/03/2019

Depois de um longo e tenebroso período de depressão econômica, que perdurou de meados de 2014 até o início do ano passado, o mercado finalmente começa a demonstrar sinais positivos de recuperação em todos os setores. O final do ano passado foi marcado pelo otimismo que gerou, consequentemente, aquecimento no comércio, indústria e, sobretudo, no segmento de crédito (um confiável termómetro da temperatura econômica do País).

Com a definição no seara político, independente de apostas contra ou a favor do novo presidente, o que se observa é a predominância da tão aguardada previsibilidade neste campo. Se nenhum desastre acontecer – e é o que se espera – nos próximos três anos e dez meses esse será o governo democraticamente eleito. E isso, por si só, já é um fator que favorece o ambiente econômico do País.

O ano passado já foi positivo em relação a 2017. Economistas e até mesmo o crítico Banco Mundial estimam que o Brasil, depois de anos com retração do PIB, emplaque o segundo ano com crescimento acima de 1%. Lembrando que em 2016 tivemos um encolhimento de 3,3% no PIB, desastre que custou o emprego de milhares de brasileiros.

“O Brasil deve crescer 2,2%, supondo que as reformas fiscais sejam rapidamente postas em prática, e que uma recuperação do consumo e o investimento vai compensar os cortes nos gastos do governo”, informou o Banco Mundial em relatório. As projeções do Banco Mundial estão ligeiramente abaixo dos 2,53% projetado pelo Banco Central, de acordo com seu relatório Focus para o PIB brasileiro deste ano.

Observando o relatório do BC e decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) em manter a taxa Selic em 6,5% ao ano pela sexta vez consecutiva fica claro que o banco trabalha com expectativa baixa de inflação em 2019. O índice projetado foi de 4,07%.

Caso a tão aguardada reforma da Previdência verdadeiramente aconteça ainda no primeiro semestre deste ano, o ambiente econômico será mais favorável. “Estamos otimistas e esperançosos de que a economia do País volte a ter crescimento sustentável já neste ano”, afirma Renato Nobile, superintendente do Sistema OCB, entidade que representa as cooperativas brasileiras.

O Sistema OCB, que fica em Brasília, DF, de olho no que a economia pode oferecer de melhor neste ano, acaba de encaminhar aos novos ministros de Estado um estudo com o título “Cooperativismo e o Novo Governo”, documento que apresenta informações sobre o novo Congresso Nacional e, ainda, as ações desenvolvidas pelo Sistema OCB no âmbito do Executivo e do Legislativo, bem como iniciativas de compliance.

“Nosso objetivo com esse documento, é mostrar quem são os principais tomadores das decisões que envolvem o movimento cooperativista, como estão estruturados os órgãos de interesse do setor e, também, apresentar um breve perfil dos nossos novos interlocutores. Assim, o que pretendemos é dar passos seguros na hora de apresentar os nossos pleitos, defender os interesses das cooperativas e mostrar o quanto o cooperativismo é capaz de transformar a realidade do nosso país”, comenta o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.

                                                

Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB, Renato Nobile, superintendente do Sistema OCB: o cooperativismo é capaz de transformar a realidade do nosso país.

O Sistema OCB está em linha com as expectativas de diversas lideranças das cooperativas do Brasil. Diz Márcio Francisco Blanco do Valle, presidente da Coopsp: “o Brasil já saiu da recessão e deve ter um crescimento em 2019 maior que o que teve em 2018. E será tanto maior quanto as expectativas se transformem em ações reais que sustentem a recuperação da economia. Os investimentos geram emprego e renda, e o consumo tende a aumentar, e todas as empresas, inclusive as cooperativas, devem melhorar seu desempenho. Há alguns anos não víamos perspectivas positivas pela frente. Temos agora novamente esta oportunidade e o Brasil não pode desperdiçá-la”.

De acordo com o Diretor de Operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), Enio Meinen, a retomada da dinâmica econômica depende da implementação das macromedidas que compõem o projeto do novo governo. O executivo destaca algumas: reformulação da previdência; a racionalização do modelo tributário de modo a estimular a expansão dos negócios e a geração de emprego e renda; a densificação do marco regulatório para induzir investimentos em setores dominados pelo poder público, notadamente no campo da infraestrutura, e a aceleração e a extensão das privatizações nas áreas em que se desaconselha a presença do Estado.

“Com essas iniciativas é muito provável que a economia cresça cerca de 2,5% ainda em 2019 e talvez 3% em 2020. As principais atividades a influenciarem a retomada do crescimento serão a indústria, especialmente da construção civil, o agronegócio, os serviços e os investimentos”.

Meinen defende que as cooperativas são especializadas em economia real, em desenvolvimento socioeconômico dos membros e das comunidades, “e não em ações especulativas”. Segundo o diretor do Bancoob, “cooperativas não deixam de dar a sua contribuição nem mesmo em momentos de crise extrema, pois são singularmente resilientes e comprometidas com o seu público-alvo. Tome-se, por exemplo, o caso das cooperativas financeiras, cuja carteira de crédito, no intervalo, adverso, de 2015 a 2018, expandiu-se consideravelmente, a uma média de 20% ao ano, enquanto que os empréstimos dos bancos, quando não retraírem, ficaram estacionados”.

 

O executivo do Bancoob tem uma visão mais pragmática sobre o papel das cooperativas no desenvolvimento econômico do Brasil. “Essas organizações se opõem ao modelo empresarial tradicional cuja tônica é a transferência de riqueza do tomador dos serviços para um grupo restrito de investidores. Em razão disso, as soluções convencionais são cada vez mais combatidas pelo consumidor, que está à procura de alternativas. Por meio das cooperativas, empreendedores e trabalhadores buscam autossatisfazer as suas aspirações de ordem econômica, portanto sem propósito de lucro, e, de forma solidária, prestar assistência às pessoas mais necessitadas”.

O fato é que o resultado do trabalho dos cooperados é retido e reinvestido nas respectivas comunidades e no âmbito dos grupos associados, ampliando o bem-estar material e social do território e dos próprios membros. “Por ser inclusivo, e não excludente, o movimento cooperativo oferece oportunidades para todos progredirem, independente do estamento social de origem. Daí a sustentabilidade da iniciativa e a sua grande capacidade de contribuir para uma nação mais próspera e mais justa”.

                                                 

Márcio Blanco do Valle, presidente da Coop e Enio Meinen, diretor de operações do Bancoob: as cooperativas são especializadas em economia real, em desenvolvimento socioeconômico dos membros e das comunidades.

Um longo caminho à frente

Mesmo com todo potencial para abrigar ainda mais cooperativas, o Brasil ainda está longe de ser um país cooperativista como grandes e ricas nações que encontraram neste modelo uma forma de oferecer, de forma democrática, crescimento sustentável a boa parte da população. O CEO da Unicred do Brasil, Fernando Fagundes, destaca que o Brasil está muito atrás de outros países em que a maioria da população está ligada a alguma cooperativa. “Acredito que o setor só não é maior aqui, por que ainda há muito desconhecimento. Por isso, estamos dedicando forte investimento em estratégias de comunicação e expandindo para o Norte e o Nordeste, duas regiões em que o cooperativismo de crédito ainda é bastante incipiente”, comenta o executivo em recente entrevista ao Jornal do Comércio.

Com a melhora da atividade econômica, com um ambiente político mais estável e com a indústria e comércio acompanhando mais de perto a expansão que o Brasil apresenta no agronegócio – apresentou bons resultados mesmo durante os quatro anos da crise – a expectativa do Sistema OCB é que as cooperativas, como um todo, cresçam, em média, 15% neste ano em comparação com o ano passado.

Outro setor de suma importância que vai se beneficiar com a melhora da atividade econômica é o de saúde. De acordo com o Dr. Orestes Pullin, Presidente da Unimed do Brasil, o modelo cooperativista é uma alternativa eficaz para melhorar a situação da saúde no Brasil que ficou ainda mais grave com a recente crise econômica.

Pullin afirma que o movimento “Somos Coop”, encabeçado pelo Sistema OCB, está empreendendo esforços para tornar o cooperativismo conhecido e reconhecido na sociedade. “Características como resiliência diante de dificuldades financeiras, capilaridade e a inversão do perfil mercadológico (relação trabalho-renda) que marcam o cooperativismo são de extrema relevância quando pensamos nos desafios na área da saúde brasileira”.

O mercado de saúde é altamente influenciado pelos índices de desemprego e, apesar de terem diminuído nos últimos trimestres, ainda apontam uma recuperação lenta. Comenta o presidente da Unimed Brasil: “A capacidade de retomarmos o crescimento da atividade econômica e do emprego formal será fundamental. Com o ligeiro aumento no número de novas contratações registrado ano passado, de acordo com dados da ANS divulgados recentemente, nossa expectativa é de manutenção dos nossos beneficiários e crescimento gradual da nossa base de clientes”.

                                                   

Fernando Fagundes, ceo da Unicred do Brasil e Dr. Orestes Pullin, presidente da Unimed do Brasil: mesmo com todo potencial para abrigar ainda mais cooperativas, o Brasil ainda está longe de ser um país cooperativista.

Números otimistas

Segundo relatório divulgado em janeiro pelo IBGE, o volume de serviços encerrou 2018 com a mais branda queda dos últimos três anos: apenas 0,1%, sendo o quarto resultado negativo seguido, porém menos intenso que nos anos anteriores. Os dados são da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), que registrou -3,6% em 2015, -5% em 2016 e -2,8% em 2017.

Já o comércio varejista fechou 2018 com alta de 2,3%, a maior taxa anual desde 2013, quando as vendas aumentaram 4,3%. Foi o segundo resultado positivo consecutivo, ficando ligeiramente acima do desempenho de 2017, quando subiu 2,1%. Mesmo assim, o crescimento acumulado de 4,4% nos últimos dois anos não recuperou a queda de 10,3% em 2015 e 2016.

As vendas do setor automotivo tiveram a maior alta em 11 anos.

No comércio varejista ampliado, que inclui os ramos de veículos e materiais de construção, as vendas registraram alta de 5%, a maior dos últimos seis anos. O resultado teve forte influência das vendas de veículos, motos, partes e peças, que cresceram 15,1% em 2018, a taxa mais elevada desde 2007, quando cresceu 22,6%.

“Esse desempenho pode ser explicado pela melhora nas condições de financiamento, refletida na redução das taxas de juros e no aumento do volume de crédito para aquisição de veículos”, comenta a pesquisadora do IBGE Isabella Nunes.

“Foi um semestre marcado pela alta do dólar, por incertezas diante do período eleitoral e pela recuperação da greve dos caminhoneiros, mas, no geral, com saldo positivo”, resume.

A taxa de desemprego caiu para 11,6% no trimestre encerrado em novembro. A estimativa da PNAD Contínua – Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios -, divulgada recentemente pelo IBGE, é que houve aumento de 1,1 milhão de pessoas ocupadas frente ao trimestre fechado em agosto passado. No entanto, a maior parte dessas ocupações foram geradas no mercado de trabalho informal, onde houve aumento de 528 mil pessoas trabalhando por conta própria e cerca de 498 mil empregados do setor privado sem carteira de trabalho. Com isso, a informalidade atinge nível recorde na série histórica da pesquisa, iniciada em 2012.

                                               

Os números também são positivos para o agronegócio. Em janeiro, a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas para 2019 foi estimada em 230,7 milhões de toneladas, 1,9% acima da safra de 2018 (mais 4,2 milhões de toneladas) e 1,2% inferior ao obtido no 3º Prognóstico (menos 2,7 milhões de toneladas) Já a área a ser colhida é de 62,1 milhões de hectares, 2,0% maior que a de 2018 (mais 1,2 milhão de ha) e 0,1% menor que o 3º prognóstico (menos 62,7 mil ha).

O setor industrial Indústria acumula alta de 1,1% em 2018 com resultados positivos em três das quatro grandes categorias econômicas, 13 dos 26 ramos, 42 dos 79 grupos e 50,9% dos 805 produtos pesquisados. A produção nacional da indústria no ano passado, contudo, ficou abaixo do desempenho de 2017, que fechou em 2,5%. Foi o segundo resultado anual positivo consecutivo, após sucessivas quedas entre 2014 e 2016. As informações são da Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF), divulgada hoje pelo IBGE.

Segundo o gerente da pesquisa, André Macedo, apesar de a taxa ter sido positiva no acumulado do ano, a indústria perdeu ritmo nos últimos meses de 2018. O quarto trimestre, inclusive, fechou com queda de 1,1% frente ao trimestre anterior. “Atividades como alimentos, metalurgia e bebidas, que mostraram comportamento positivo no início do ano, perderam intensidade ao longo dos meses”, explica Macedo.

Entre as atividades, a de veículos automotores, reboques e carrocerias (12,6%) exerceu a maior influência positiva. Outras contribuições positivas relevantes vieram de metalurgia (4,0%), de celulose, papel e produtos de papel (4,9%), de indústrias extrativas (1,3%), de máquinas e equipamentos (3,4%), de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (6,1%), de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,0%), de produtos de metal (2,7%) e de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (2,6%).

Entre as treze atividades em queda, produtos alimentícios (-5,1%) deu a contribuição negativa mais intensa. Destacam-se também os resultados negativos de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,3%) e de couro, artigos para viagem e calçados (-2,3%).

Entre as grandes categorias econômicas, o perfil dos resultados para os doze meses de 2018 mostrou maior dinamismo para bens de consumo duráveis (7,6%) e bens de capital (7,4%), impulsionadas, em grande parte, pela ampliação na fabricação de automóveis (10,8%) e eletrodomésticos da “linha marrom” (4,4%), na primeira; e de bens de capital para equipamentos de transporte (13,8%) e para construção (25,2%), na segunda. O setor de bens intermediários (0,4%) também assinalou taxa positiva no índice acumulado no ano, mas com avanço abaixo da média nacional (1,1%), enquanto o segmento de bens de consumo semi e não-duráveis apontou o único resultado negativo (-0,3%).

Por Mauro Cassane.

Matéria publicada na Revista MundoCoop, edição 86. 

Fonte: Mundocoop