A soja é um grão de origem chinesa que surgiu ocupando a posição importante de matéria-prima na produção de tofu, leite, óleo, proteína vegetal e até moeda de troca para a população do país. Além disso, o alimento foi mencionado pelo pai da agricultura chinesa, imperador Shen-nung, como uma das 5 plantas consideradas sagradas na época.
Com o passar do tempo o teor de óleo e da proteína do grão passaram a chamar a atenção das indústrias mundiais, começando nos Estados Unidos em meados do século XX, e, logo após, a leguminosa se tornou um item importante do comércio exterior mundial.
A primeira referência sobre soja no Brasil foi registrada em 1882, na Bahia, porém sua expansão é iniciada verdadeiramente nos anos 1970, quando a indústria de óleo começa a ser ampliada e o aumento da demanda internacional pelo grão fomenta o crescimento da sojicultura. Nos últimos 50 anos a produção mundial de soja multiplicou-se por dez, chegando a 269 milhões de toneladas e, segundo a FAO (Food And Agriculture Organization), essa produção irá quase dobrar, chegando a 515 milhões de toneladas até 2050.
Conhecida por produzir mais proteínas por hectare do que qualquer outro cultivo, a soja é uma das principais responsáveis por colocar o Brasil no topo do ranking agropecuário do mundo. Segundo estimativas do Departamento de Agricultura da Estados Unidos (USDA), mais de 126 milhões de toneladas do grão terão sido colhidas no Brasil no final da temporada 2019/2020, que termina em agosto, 7,6% a mais que na safra anterior. Número que faz com que o país ultrapasse o até então maior produtor mundial, os Estados Unidos, com uma diferença de 30%. Já a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou para baixo a produção de soja e agora acredita que o Brasil possa colher 122,1 milhões de toneladas na temporada 2019/2020, ainda um recorde.
Ocupando a frente mundial, o Brasil apresenta muitos diferenciais que o colocam nessa posição. Nos últimos anos, o setor agropecuário brasileiro tem avançado científico e tecnologicamente através de incentivos e iniciativas públicas e privadas, seguindo como o grande celeiro para a expansão da produção global de soja. Além disso, competitividade econômica e fatores territoriais, como solos agriculturáveis propícios para as mais diversas culturas, tem feito a diferença. “Uma das principais vantagens do Brasil é que em várias regiões agrícolas do país é possível cultivar duas safras por ano, por meio de um regime de rotação ou sucessão de culturas. E isto é potencializado pelo avanço da produtividade dos cultivos”, comenta o pesquisador da área de Sócio-Economia da Embrapa Soja, Marcelo Hirakuri.
Sem dúvidas, um dos motivos que fazem a soja ganhar a magnitude que representa, é o mercado internacional. Por efeito do dólar, o Brasil bateu um novo recorde em 2020, onde o preço da soja ultrapassou a casa dos R$ 104 por saca no porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Esse valor inédito fez com que pelo menos 300 mil toneladas fossem negociadas no dia da elevação.
Segundo a consultoria Safras & Mercado, as exportações nacionais deverão garantir um resultado positivo com a forte procura por parte da China e as exportações de soja do Brasil deverão totalizar 74,3 milhões de toneladas esse ano. A liderança brasileira nesse cenário, proporciona a visibilidade e o reconhecimento ao agronegócio do país, passando segurança aos mercados compradores de soja.
Segundo o Diretor Presidente da TMG (Tropical Melhoramento e Genética), Francisco Soares Neto, a soja é uma aposta certeira e indispensável. “Certeira pois, de acordo com as cotações internacionais em dólar, há perspectiva de ganhos quando transformados em reais, mesmo que de forma momentânea, e isso ajuda o fluxo de caixa do agricultor. Outro fator é que a soja é fonte de proteína e óleo de qualidade, tendo espaço em vários cenários da economia onde a segurança alimentar é o foco principal de várias nações, em especial a China, nosso maior comprador e indispensável para o agricultor brasileiro, principalmente do centro-oeste, onde a cultura da soja praticamente não tem substituta, ou seja, o agricultor vai plantar”, explica.
Francisco Soares Neto, Diretor Presidente da TMG (Tropical Melhoramento e Genética)
Mesmo com os efeitos da pandemia do Corona vírus transformando o cenário futuro em incertos, a consultoria AgRural estima que as vendas ao exterior cheguem a 70 milhões de toneladas nesta temporada (das quais quase 80% seriam para a China), enquanto na temporada passada foram 74 milhões. Além da imprecisão mundial, a redução se deve ao fato do país asiático ter concedido algumas isenções tarifárias a várias importações, incluindo a da soja.
A expansão da soja impulsionou o desenvolvimento e a qualidade de vida de diversas cidades pelo país e a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) já estima que o PIB da soja possa alcançar a cifra de 280,4 bilhões de reais em 2025.
Com a crise que o mundo se encontra, a soja tende a sofrer alguns impactos, porém as perspectivas são que a gigante da agropecuária se mantenha consolidada e busque medidas para minimizar os efeitos negativos que estão por vir. “Um primeiro ponto seria a ampliação do mercado do grão, tentando alcançar outros mercados além da China. Um segundo ponto seria desenvolver mercado para os seus produtos derivados (farelo e óleo), o que dependeria de uma reforma tributária que favorecesse as exportações destes tipos de produto”, acentua Marcelo Hirakuri.
Para o Superintendente Comercial da Cooperativa Integrada, João de Souza Azevedo, a soja, hoje, é a commodity de maior liquidez do brasil, se não for do mundo, e se torna extremamente necessária porque envolve toda uma cadeia. Além disso, posiciona que o maior impacto que o grão pode sofrer é em relação aos insumos para cultivo da soja. “Boa parte dos princípios ativo dos produtos e defensivos agrícolas tem suas moléculas produzidos na China e em outros países. O maior impacto seria se tivéssemos a interrupção dos fornecimentos das matérias primas que são utilizados para a produção desses produtos”, afirma. Ainda, o Diretor Presidente da TMG acentua que alguns pontos como eficiência na produção e produtividade precisam estar em foco nesse momento. “Outra possibilidade de mitigar efeitos de “mercado ruim” é estar informado sobre a situação política, econômica e fundamentalista, desenhando estratégias de venda estruturadas para diminuir riscos”, acrescenta.
A soja tem sua versatilidade como principal benefício. Além de ser utilizada na produção de leite, molhos, farinhas, óleos e alimento para animais, a produção da leguminosa consegue seguir fortalecida entre expectativas positivas e negativas de uma realidade instável, reforçando ainda mais a grandiosidade do agronegócio brasileiro. “O lado positivo da pandemia é que fez a sociedade enxergar a importância que o campo está tendo para que o país não pare. A maior preocupação era de não conseguir produzir os alimentos e a soja é essencial para a formação da ração dos animais”, comenta João Bosco.
Entre inovações e avanços, para continuar a exercer impecavelmente seu importante papel na segurança alimentar do mundo, o Brasil precisa apostar no fator humano. Aproveitando mais do que nunca sua vantagem em relação aos outros países, “brasileiros e brasileiras ávidos por tecnologia, com atitudes e pensamentos agrícolas, direcionando e impulsionando o agronegócio para as diversas regiões, com profissionalismo e dedicação”, como finaliza Francisco Neto.
Fonte: mundocoop