Notícias

Os novos caminhos das assembleias

11/08/2020

A modalidade online chegou nas cooperativas e promete mudar definitivamente a forma de se relacionar dentro do movimento

A antecipação de mudanças tidas como necessidades futuras tem transformado drasticamente todos os setores da sociedade, mas principalmente, mostrado um novo cenário de possibilidades para aqueles que sempre tiveram seus princípios e estruturas consolidadas durante muitos anos, seja na sociedade ou nos negócios.

O cooperativismo por sua vez, apoiado em sua forte capacidade de se manter em meio a grandes crises, começou a expandir cada vez mais seus horizontes e fazer a junção do mundo tecnológico com a essência da humanização. Um grande exemplo disso é a crescente realização das assembleias em formato digital nas cooperativas. 

A Assembleia Geral é o órgão deliberativo supremo da sociedade cooperativa que possibilita a tratativa de qualquer assunto, nos limites da lei, e faz com que as decisões ali tomadas vinculem a todos os sócios, ainda que ausentes ou discordantes. Com a nova dinâmica adotada no isolamento social, principalmente nos ambientes de trabalho, a inserção na dimensão online também adentrou essa etapa importante do dia a dia cooperativista, mas ao mesmo tempo que trouxe novas possiblidades, delineou diversas questões determinantes. Afinal, o que muda?

Muitas cooperativas passaram a adotar a modalidade digital e realizar toda a prestação de contas, deliberação das sobras ou rateio das perdas e eleições de representantes remotamente. “O que garante a legitimidade de todos esses atos é, para além do cumprimento das formalidades legais, a presença e participação do cooperado, ou seja, a tomada de decisão coletiva e democrática. Assim, entendo que a realização de assembleias gerais por participação online não interfere em sua legitimidade, uma vez que serão preservadas a participação e voto dos membros, ainda que a distância”, declara a Consultora Jurídica na Sescoop/SP, Esther Bastos.

O novo cenário digital

Toda mudança exige um tempo de adaptação e nesse novo contexto não foi diferente. As instituições cooperativas se depararam com alguns desafios já conhecidos no movimento e novas etapas para ultrapassar. “De forma particular, acredito que o cooperativismo ainda é “vendido” de uma maneira muito tradicional e pouco atrativa para o publico jovem. As assembleias, respeitando a formalidade do ato, precisam se desenrolar de maneira mais intuitiva e atrativa ao publico em geral, para que assim possamos superar outro grande desafio histórico, que é a participação de massiva da base de cooperados”, declara o Diretor Administrativo do Sicoob Fronteiras, Tiago de Almeida Zandoná.

Além disso, outra questão ainda muito presente é a falta de familiaridade de grande parte do movimento cooperativista com algumas ferramentas digitais, fazendo com que o trabalho de inserção seja ainda mais minucioso, mas também, muito mais necessário. E foi pensando nisso que a cooperativa de tecnologia, Coopersystem, desenvolveu um software, chamado Curia, que vem gerenciando as assembleias digitais, auxiliando no registro de presença, votações de itens de pauta e eleições de conselhos e diretorias e buscando facilitar todo esse novo processo. “Em parceria com a OCB, estamos liberando gratuitamente uma licença de uso do software para cada cooperativa interessada, que esteja também devidamente registrada no Sistema OCB. Além disso, instruímos os detalhes desse processo e oferecemos alguns pacotes extras para auxiliar tanto no cadastro de informações, quanto no gerenciamento da assembleia digital das cooperativas interessadas”, afirma o Consultor de Relacionamento e Negócios da Coopersystem, Hugo Pimentel Felinto.

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é image.png

Em contraponto, essa modalidade apresenta inúmeros benefícios que prometem transformar definitivamente o ambiente dentro das cooperativas, afetando de maneira extremamente positiva o movimento como um todo. Além da economia de custos com deslocamentos para a realização das assembleias, optar pelo formato semipresencial e/ou digital tende a proporcionar um maior engajamento e participação de seus membros, possibilitando a participação de qualquer lugar. Esse fator incentiva, consequentemente, uma maior participação dos cooperados, cumprindo a gestão democrática em que as cooperativas se baseiam, e até impulsiona o crescimento do movimento, conseguindo alcançar um número maior de pessoas através do mundo digital. “A possibilidade de participação e voto a distância será uma oportunidade de crescimento para muitas cooperativas, que poderão ampliar sua área de admissão de cooperados sem grandes gastos. Antes, havia um obstáculo legal, já que a Lei 5.764/71 exige que a área de admissão seja limitada às possibilidades de reunião. Como agora as reuniões podem ocorrer por meios digitais, esta questão está superada”, acrescenta Esther.

Em julho desse ano, a Câmara aprovou o relatório do deputado Enrico Misasi (SP) à MP 931/2020, que trata da realização de assembleias gerais ordinárias por cooperativas durante a pandemia de Covid-19. Com reunião em conjunto com a OCB e a alteração na Lei 5.764/71, fica permitida a participação e votação virtual de forma permanente. Vale destacar que o texto assegura a continuidade dos mandatos administrativos nas cooperativas e, também, nas unidades estaduais até o momento da realização da AGO.

A cara do futuro

Além de reunir vantagens e novos desafios, as assembleias em formato virtual já são uma realidade inegável e atingem um número cada vez maior de cooperativas pelo Brasil. “Quando olhamos para a nossa experiência nesse primeiro processo assemblear, sem dúvidas a adaptação ao modelo 100% virtual foi um desafio e tanto, mas ao mesmo tempo muito satisfatório. Realizamos nossa transmissão nas dependências da cooperativa contando com o apoio de uma equipe especializada, além da retaguarda para apoio e monitoramento das duvidas e manifestações dos cooperados, para que o evento fosse o mais participativo possível, e que, mesmo através de uma transmissão, pudéssemos dar voz ao dono do negócio”, comenta Tiago, reforçando o episódio positivo no Sicoob Fronteiras.

A tecnologia e todas as suas ferramentas disponíveis estão mais presentes do que nunca na sociedade e tem tudo para garantir ainda mais um bom funcionamento das cooperativas, auxiliando desde pequenas rotinas diárias até impulsionando passos ainda maiores. “Com grande apoio e incentivo do próprio Banco Central do Brasil e sua agenda #BCcooperativismo, além de fomentar o aprimoramento da governança, as cooperativas tem buscado se adaptar a essa nova realidade imposta pela pandemia e, em meio ao caos, encontrar uma identidade de atuação ainda mais assertiva e próxima dos cooperados e da grande parcela da população que ainda não conhece o cooperativismo em sua essência e não se oportunizou a desfrutar das vantagens de se trabalhar com uma cooperativa”, conclui Tiago.

As mudanças são necessárias e não representam, obrigatoriamente, um desprendimento com o que já vem sendo realizado no decorrer dos anos, mas sim, uma reinvenção do mesmo. A inovação também acontece a partir da reformulação dos pontos mais positivos que uma organização ou movimento traz consigo, no caso do cooperativismo, é construir esse novo ideal de relacionamento com o cooperado. “As empresas privadas, por sua vez, estão investindo fortemente para suas plataformas não ficarem defasadas. Esse é o momento do cooperativismo seguir o mesmo rumo. Cooperativas hoje movimentam grandes quantias de dinheiro no país, além de gerar fonte de renda para pessoas de forma democrática e justa”, finaliza Hugo.

Fonte: mundocoop