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Como o selante de tetos atua no controle de mastite durante o período seco?

27/08/2020

Durante o período seco (PS) a glândula mamária de vacas leiteiras passa por várias alterações histológicas e fisiológicas, especialmente nas primeiras duas semanas após interrupção da ordenha. Assim, o PS é uma fase de alto risco de novos casos de mastite, mas também é uma boa oportunidade para tratamento das infecções existentes.

O tratamento de vaca seca é o manejo mais convencional para tratar e prevenir infecções intramamárias durante o PS. No entanto, a preocupação global com o uso imprudente de antimicrobianos e o aumento da resistência bacteriana, tem incentivado a busca por alternativas não antimicrobianas, dentre as quais destacam-se a terapia seletiva de vaca seca, associada com o uso de selantes de tetos (SIT).

A composição dos selantes de tetos é baseada em subnitrato de bismuto, que confere proteção física contra novos casos de mastite durante o PS. O mecanismo de ação do selante de tetos se dá pela formação de uma barreira física no canal dos tetos que mimetiza o tampão fisiológico de queratina e impede a invasão bacteriana. Embora esta capacidade de proteção tenha sido proposta em inúmeros estudos, o modo de ação do subnitrato de bismuto nas formulações de SIT é desconhecido e não foi cientificamente comprovado.

Diante disso, pesquisadores da Nova Zelândia investigaram se o subnitrato de bismuto seria capaz de inibir o crescimento de bactérias durante a colonização da glândula mamária no PS e o desenvolvimento de novas infecções intramamárias. Para isso, foi avaliado o efeito in vitro do subnitrato de bismuto sobre o crescimento de Streptococcus uberisStaphylococcus aureus e Escherichia coli, por testes de disco-difusão, medição de impedância e avaliação do crescimento bacteriano em condições de agitação. Nos três experimentos foram comparados um grupo tratado (com subnitrato de bismuto) e um grupo sem tratamento com selante.

Os resultados mostraram que ocorreu redução do crescimento bacteriano na presença de subnitrato de bismuto para todas as espécies bacterianas avaliadas (Figura 1)Strep. uberis foi a cepa mais sensível à ação do subnitrato de bismuto, o que pode seratribuído à alta sensibilidade de Strep. uberis a este composto ou às reduzidas taxas de crescimento in vitro de algumas espécies de Strep. uberis diante da disponibilidade de nutrientes.

Figura 1: Comparação das médias das contagens bacterianas para subnitrato de bismuto (SB) versus grupo controle (CON). Valores seguidos por letras diferentes foram considerados estatisticamente diferentes.

selantede tetos ação antibacteriana

A ação do subnitrato de bismuto reduziu crescimento bacteriano nas avaliações in vitro. Esta redução pode explicar, pelo menos em parte, a eficácia de formulações à base de bismuto para a prevenção de infecções intramamárias durante o PS. Alguns estudos indicam que a eficácia de SIT é similar a da terapia de vaca seca sobre a incidência de mastite clínica no PS e pós-parto.

Desta forma, a prevenção de mastite clínica durante o PS pode estar associada a redução no crescimento de agentes causadores de mastite pela ação do subnitrato de bismuto (componente de SITs) na glândula mamária. Apesar disso, o mecanismo de ação pelo qual o subnitrato de bismuto retarda o crescimento bacteriano ainda não é totalmente compreendido. Algumas especulações sugerem o envolvimento de fatores oxidantes, interferência no metabolismo bacteriano pela redução da síntese de ATP, inibição de enzimas, da formação de biofilme e/ou inibição de ureias (essenciais para algumas bactérias).

Além do efeito dos SIT como barreira física, descrito em estudos anteriores, a inibição do crescimento bacteriano pode reduzir a colonização do canal do teto por patógenos causadores de mastite. Entender o mecanismo de ação deste composto pode ajudar no desenvolvimento de novos métodos de controle de mastite na secagem. Dessa forma, mais pesquisas são necessárias para avaliar o efeito do subnitrato de bismuto nas diferentes formulações de SIT sobre a dinâmica de crescimento bacteriano, especialmente para Staphylococcus não aureus e Streptococcus spp. uma vez que estes agentes são importantes causas de infecção intramamária em vacas leiteiras e novilhas.

Fonte: milkpoint