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A importância da seleção de touros e das técnicas reprodutivas

28/09/2020

O setor pecuário vem sofrendo grandes modificações no Brasil e no mundo. Devido ao intenso crescimento populacional e a demanda progressiva por alimentos, principalmente aqueles advindos de origem animal, busca-se cada vez mais a eficiência e produtividade de rebanhos bovinos. Desse modo o cenário reprodutivo vem sofrendo fortes modificações e abandonando velhos manejos. Um exemplo é o uso da inseminação artificial. Ao se comparar o número de fêmeas em idade reprodutiva (ANUALPEC, 2018) com o número de doses se sêmen comercializadas (ASBIA, 2019) em 2018 e ainda, analisando o Brasil desde o ano de 2002 (BARUSELLI et al., 2012) a 2018 (BARUSELLI et al., 2019), o percentual de fêmeas inseminadas passou de 5,8% em 2002 para 13,1% em 2018.

Apesar de parecer um pequeno crescimento, a tendência é de que as técnicas utilizadas para melhorar os índices de reprodução dos rebanhos bovinos ganhem maior adesão de produtores rurais. Um dos entraves para a adoção das técnicas é quando o produtor só se preocupa com a reprodução e esquece que a lucratividade de um rebanho é um conjunto de fatores.

Manejo adequado

Embora eficientes, estas técnicas, quando aplicadas sozinhas, não têm bons resultados. Para se obter uma eficiência produtiva e, consequentemente, uma eficiência econômica e zootécnica, o produtor precisa ter um planejamento para que seus animais tenham uma boa nutrição, ambiente saudável, higiene na propriedade, cuidados sanitários e, principalmente, genética e o uso de técnicas reprodutivas adequadas às variadas situações. O manejo nutricional é considerado um dos principais fatores que afetam a reprodução de bovinos. Conhecer as necessidades nutricionais dos animais e alcançar um manejo adequado, possibilita aumentar a produtividade da fazenda e diminuir perdas, tais como, mortalidade elevada, baixo índice de concepção e prenhez, dentre outros.

Escolha do reprodutor

Na escolha de reprodutores, para se conhecer o verdadeiro potencial reprodutivo dos animais, deve-se analisar o histórico do animal, fazer o exame clínico geral, exame físico dos órgãos reprodutivos (internos e externos), observar o comportamental sexual, coletar sêmen para avaliação da qualidade, além das medidas biométricas, sendo a mais utilizada a mensuração da circunferência escrotal.

Os testículos são órgãos que desempenham importantes funções, como a produção de hormônios andrógenos (testosterona), além da produção, transporte e armazenamento de espermatozoides. As medidas biométricas testiculares são avaliações que podem ser realizadas de maneira simples e rápida. Essas apresentam alta correlação com os parâmetros produtivos e reprodutivos dos machos. Dentre essas características está a libido dos animais, qualidade do sêmen e o peso corporal.

As características relacionadas à biometria testicular do aparelho reprodutor de machos são amplamente utilizadas na seleção de reprodutores, como a circunferência escrotal, perímetro e volume testicular e a forma testicular (associada à qualidade seminal). Dentre as medidas, a circunferência escrotal é a principal medida biométrica para essa seleção, uma vez que é fácil de ser mensurada. Porém, seus valores e, consequentemente, a qualidade do sêmen podem ser afetados por alguns fatores, como época do ano, idade e peso do animal. Sendo assim, animais com idade mais avançada e maior tempo de atividade sexual apresentam circunferência escrotal maior. Também vale ressaltar que essa medida pode variar entre as raças de bovinos e também entre as linhagens.

Os zebuínos possuem os testículos mais longos se comparados com os taurinos e, consequentemente, a circunferência escrotal menor. Dessa forma, outras medidas vêm sendo introduzidas nas avaliações dos reprodutores, como a forma dos testículos e o volume testicular. Assim, a circunferência escrotal somada a outros parâmetros testiculares são utilizados para a seleção de bons reprodutores.

Técnicas reprodutivas

Visando o melhoramento genético e o aumento da produtividade do rebanho, torna-se imprescindível desenvolver e aprimorar tecnologias que resultem em acelerado ganho genético e alta eficiência reprodutiva.

Entre as mais utilizadas, a inseminação artificial (IA) traz grandes vantagens para os rebanhos, quando comparada com a monta natural. A técnica permite maior aproveitamento do potencial de reprodutores considerados geneticamente superiores, visto que o sêmen de um só ejaculado pode ser fracionado e utilizado para inseminar diversas vacas, independente da distância entre propriedades, pois o congelamento do produto permite o transporte e o armazenamento prolongado, rompendo barreiras geográficas e temporais, uma vez que possibilita a utilização do sêmen mesmo após a morte do reprodutor.  Entre outras vantagens da aplicação da IA, também há prevenção de transmissão de doenças venéreas, por não haver o contato direto entre fêmea e reprodutor, melhor controle sobre cruzamentos e uniformidade do rebanho e, a possibilidade de adquirir sêmen de reprodutores de alto valor zootécnico, sem custos de aquisição e manutenção do animal.

Como desvantagem da técnica, há necessidade de identificação do estro (cio) das fêmeas para distinguir o momento adequado para inseminação. Tal desvantagem, contudo, pode vir a ser resolvida por meio de protocolos hormonais aplicado as fêmeas, permitindo o controle da ovulação em dias pré-determinados, programa este conhecido como inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Além de eliminar a necessidade de detecção de estro, a IATF também pode auxiliar vacas em anestro a ciclarem novamente, dependendo da causa do anestro, aumentando a eficiência reprodutiva do rebanho.

Em fêmeas de alto valor zootécnico onde há o desejo de aumentar o número de seus descendentes, outras biotecnologias podem ser implementadas, como a transferência de embrião (TE). Para realização da técnica, a fêmea doadora é submetida a um processo chamado de superovulação, pelo qual é estimulada a produzir um número maior de óvulos do que produziria fisiologicamente. Devido ao maior número de óvulos, há aumento do número de vezes em que a fêmea doadora será inseminada, variando o número e o horário de protocolo para protocolo. A transferência de embriões propriamente dita se dá pela coleta dos embriões do útero da fêmea doadora e transferência para o útero de fêmeas receptoras, que levarão a gestação adiante. Lembrando que, o trato reprodutivo da fêmea receptora deve estar sincronizado com a idade do embrião da doadora no momento da transferência.

produção in vitro de embriões (PIV), também chamada fecundação in vitro (FIV), é outra biotecnologia utilizada para se obter descendentes de fêmeas de alto valor, sendo a possibilidade da venda de embriões um dos grandes motivadores para escolha da técnica. Para sua execução, inicialmente é realizada a aspiração dos folículos dos ovários da fêmea. Depois de recolhidos, os mesmos são maturados e fecundados em laboratório, produzindo in vitro um embrião de alto valor, quando o oócito e sêmen utilizados são de animais de excelente genética. A qualidade do embrião irá determinar se é viável ou não transferi-lo a uma receptora ou criopreservá-lo para uso futuro.

Os produtores devem ter conhecimento sobre novas técnicas e suas aplicabilidades, para tornar o rebanho mais produtivo. A eficiência reprodutiva é um dos aspectos que mais contribui para a rentabilidade do sistema de produção, por isso é objeto constante de estudos. O impacto das biotecnologias da reprodução nos sistemas de produção depende de quão ampla e eficientemente possam ser aplicadas. A introdução e expansão destas biotecnologias dentro de um rebanho, embora demandem investimento, contribuem para um rápido progresso genético, otimizando os sistemas de criação e gerando ganhos significativos para a pecuária.

Autores:

Anna Carla Silva Cunha1
Júlia dos Santos Fonseca1
Fernanda Vieira Galvão1
Ana Paula Lopes Marques2

Discentes e Orientadora, Grupo de Estudos Liga de Bovinos - LiBovis

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ

 

Fontes consultadas:

ANUALPEC. Anuário da Pecuária Brasileira. Rebanho bovino brasileiro. São Paulo: FNP, 2018.

ASBIA. Associação Brasileira de Inseminação Artificial. Index ASBIA Mercado, 2019. Disponível em: <https://www.lancerural.com.br/vendas-de-semen-bovino-crescem-no-1o-semestre-de-2018/presidente-da-asbiasergio-saud-anuncia-aumento-nas-vendas-de-semen/>. Acesso em: 31/08/2020.

BARUSELLI, P. S. et al. Evolução e perspectivas da inseminação artificial em bovinos. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v.43, n.2, p.308-314, 2019.

BARUSELLI, P.S. et al. History evolution and perspectives of timed artificial insemination programs in Brazil. Anim Reprod, v.9, p.139-152, 2012.

Fonte: milkpoint