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China vai revolucionar mercado global de milho

13/11/2020

O ano de 2020 poderá ficar marcado por uma mudança substancial no mercado mundial de milho, com a entrada efetiva da China na lista de importadores. E essa participação deverá ser significativa, capaz de “perturbar” os preços em países produtores como o Brasil. Foi o que confirmou hoje o economista Alexandre Mendonça de Barros, sócio-fundador da consultoria MB Agro, para quem o gigante asiático já poderá importar entre 22 milhões e 28 milhões de toneladas do grão no ano que vem, ou cerca de 15% de todo o volume comercializado no mercado internacional hoje. “Tudo faz crer que a China vai participar do mercado mundial de milho. É possível que em 2021 o país passe a importar até 28 milhões de toneladas de milho, sendo que nunca passou de 3 milhões a 5 milhões de toneladas”, disse ele durante apresentação virtual a suinocultores da América do Sul nesta quarta-feira.

“Quem produz carne deve prestar atenção nisso. É provável que 2020 marque uma mudança no mercado mundial de milho. Se a China, que não participava, entra comprando 20 milhões de toneladas adicionais, mexe com os preços no Brasil, perturba os preços. Isso poderá aumentar as exportações brasileiras de milho e reduzir o estoque de passagem de maneira muito significativa”, acrescentou.

A produção mundial de milho está estimada em 1,2 bilhão de toneladas, mas apenas cerca de 180 milhões são comercializadas entre os países. O volume que a China pode comprar, de 22 milhões a 28 milhões de toneladas, “é muito pouco perto do que se produz, mas perto do que se comercializa é muito”, reforçou Mendonça de Barros.

O grande volume potencial de importações é para suprir a transformação em curso na suinocultura chinesa, com a recuperação do rebanho após grande parte dele ter sido dizimada com a peste suína africana. Mendonça de Barros indicou que está havendo naquele país investimentos “pesados” de grandes grupos de criadores, com até 3 milhões de cabeças.

Como informou o Valor esta semana, o perfil da criação chinesa mudará e passará a consumir mais ração, produzida a partir dos grãos importados. “A maioria do rebanho destruído não consumia ração, era de pequenos criadores, com baixa tecnologia. Agora, na reconstrução, estamos olhando um cenário que inverteu”, pontuou.

produção de carne suína na China deverá aumentar em 6 milhões de toneladas em 2021, ainda longe de alcançar o patamar registrado antes da peste. Até lá, o país continuará demandando grãos, mesmo produzindo cerca de 260 milhões de toneladas de milho. O economista prevê que o rebanho chinês, que já foi de 350 milhões de cabeças de suínos, será recomposto até o fim de 2022.

O “desafio” para as companhias brasileiras de proteína animal será disputar esse milho com os chineses, que compram com grande antecipação (até três safras). “Falta desenvolver um mercado futuro de suíno e de frango, porque aí se trabalharia custo e receita, assim como a indústria americana trabalha. A cadeia deve tentar criar ferramentas nessa direção”, afirmou Mendonça de Barros durante a apresentação online.

Sobre a eleição de Joe Biden

No mesmo evento virtual, Alexandre Mendonça de Barros disse que a eleição do democrata Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos não deve arrefecer a guerra comercial do país com a China, mas apenas fazê-la mudar de estilo. Para o economista, a continuidade do conflito, apoiada pela elite americana — e que não será abandonada pelo novo comandante —, poderá favorecer o incremento da produção de grãos no Brasil e de outros países da América Latina para ajudar a “resolver a equação” da demanda chinesa nos próximos anos.

“A China não vai depender no longo prazo de alimento americano, e a elite americana já tomou a decisão de ter o embate com a China”, disse o economista durante videoconferência com suinocultores brasileiros e de outros países da América do Sul. Para ele, Biden deve seguir um estilo próprio e construir pontes, diferentemente da condução explosiva e conflituosa via Twitter de Donald Trump.

Biden provavelmente vai montar uma estratégia multilateral de se aproximar de parceiros usuais e reconstruir pontes com Canadá, México e Europa, para criar uma coalizão contra os chineses. Diferente de Donald Trump, que estava brigando com todo mundo e deixou os EUA isolado”, opinou.

Segundo Mendonça de Barros, a China vai intensificar a busca de produtos em outras regiões, e a América Latina pode se beneficiar disso. “A China vai financiar o produtor, vai comandar a logística e criar os braços para puxar o alimento para a China”.

Esse movimento e os preços históricos das commodities vão influenciar um investimento “espetacular” na produção de grãos no Brasil, diz o economista. “Vamos ter incremento de área plantada recorde e mais forte ainda no ano que vem, porque as margens de rentabilidade de grãos são absolutamente sem precedentes, absurdas, ridículas. A área de soja do Brasil vai dar uma porrada e a área de milho safrinha vai ser monstra”, destacou.

Fonte: milkpoint