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Descarte de leite e preços baixos como consequência do coronavírus

07/05/2020

Os produtores de leite do interior de Nova York — que enfrentaram a difícil tarefa de descartar leite no início do mês passado, agora encaram um futuro sombrio: meses de preços baixos.

A pandemia levou as autoridades a fecharem escolas, restaurantes e outros negócios não essenciais nas últimas semanas de março. Isso causou uma queda repentina e acentuada na demanda por produtos lácteos e um excesso de oferta imediata.

Os proprietários da fazenda leiteira Dykeman and Sons, em Fultonville, disseram que precisaram descartar mais de duas dúzias de caminhões de leite após a indústria, que compra o produto para fazer queijo, reduzir suas operações.

A Allenwaite Farms, em Schaghticoke, que ordenha cerca de 2.800 vacas, despejou aproximadamente 10 cargas este mês e agora está desenvolvendo planos para reduzir o horário dos colaboradores, segundo o gerente de operações Paul Molesky. Ele disse que foi criado para “comer toda a comida em seu prato” e ver um bom leite transformado em fertilizante é extremamente difícil.

O surto trouxe uma grande reversão para os produtores de leite de Nova York, que sofreram "não um corte profundo, mas um longo arranhão" nos últimos cinco anos, segundo Andrew Novakovic, economista agrícola da Universidade de Cornell. Os preços do leite estão em queda desde 2015, mas os produtores viram a economia acelerar recentemente e esperavam obter ganhos.

“O setor de serviços de alimentação consome cerca de 50% do leite produzido em Nova York e a demanda caiu da noite para o dia”, disse Novakovic. As cadeias de suprimentos não foram capazes de se concentrar imediatamente na entrega de bens de consumo vendidos em supermercados.

Mas, como as vacas não podem ser simplesmente “desligadas”, o excesso de leite se acumula rapidamente. O resultado foi paradoxal e perturbador para a cadeia láctea: consumidores sem aceso ao produto e produtores foram forçados a descarta-lo.

Ed Townley, diretor executivo da cooperativa de laticínios Agri-Mark, escreveu em uma carta aberta na semana passada que a indústria nacional de laticínios estava produzindo 15% mais leite do que o necessário. Os produtores de sua cooperativa, que opera fábricas em Vermont e no norte de Nova York produtoras de queijos Cabot e McCadam, estavam produzindo 5% a mais de leite. Isso se traduz em uma perda mensal de US $ 2 milhões.

Em janeiro, o Departamento de Agricultura dos EUA calculou que o preço no mercado de Nova York para o leite Classe III, usado para fazer queijos duros, seria de US$ 16,25 por cada cem libras (US$ 36/100 kg). Os contratos futuros para essa série estão sendo negociados a pouco mais de US$ 13 em abril e menos de US$ 12 em maio.

O USDA previa que o preço do leite para 2020 seria de US$ 142,7 por 100 quilos. Em 9 de abril, revisou essa previsão para US$ 31,8 por 100 quilos. Os produtores de Nova York dizem que custa entre US$ 33,3 e US$ 44,4 para produzir 100 quilos de leite, dependendo do tamanho de sua operação.

“O cheque que recebemos em maio vai ser horrível. E é aí que colocamos muitas de nossas colheitas no solo”, disse Roy Dykeman, sócio da Dykeman and Sons. A fazenda está lentamente diminuindo sua produção e reconsiderando o que plantará, disse ele.

Vários membros do Congresso que representam áreas do interior pediram ao USDA que comprasse leite para distribuição nos bancos de alimentos. O senador Kirsten Gillibrand (D., Nova York) apresentou um projeto de lei que daria aos agricultores empréstimos com juros baixos.

O governador Andrew Cuomo anunciou na segunda-feira que o estado compraria o excesso de leite, iogurte e cream cheese e doaria para bancos do estado. "Temos que fazer esse casamento entre o produto no norte do estado e a demanda no sul", disse ele.

O leite é o principal bem agrícola de Nova York e os produtos lácteos geraram US$ 2,5 bilhões para os produtores em 2018, de acordo com o mais recente relatório estatístico do Departamento de Agricultura do Estado de Nova York. O relatório disse que o número de fazendas leiteiras tem diminuído constantemente: havia 4.194 fazendas em 2018, ante 5.622 em 2008.

O presidente do Farm Bureau, David Fisher, disse em uma entrevista que espera que mais fazendas fechem. Sua fazenda, Mapleview Dairy, no condado de St. Lawrence, ordenha 3.000 vacas. "A demanda do mercado está baixa, os preços estão caindo, os custos com insumos e mão de obra estão altos — se é que você pode encontrar mão de obra", disse Fisher. "Será um ano difícil para a economia agrícola."

O CEO da Cooperativa do Norte do Niagara, Larry Webster, cujo grupo inclui 320 produtores, disse que foi capaz de minimizar o descarte de leite, mas está pedindo a seus membros que tentem reduzir a produção.

As fábricas de leite fluido da cooperativa estão sendo reconfiguradas para fornecer aos consumidores, mas ele não vê preços mais altos no horizonte. "Detesto dizer, mas será catastrófico", disse Webster. "Vai ser enorme."

Fonte: milkpoint