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Produção de leite, consumo e efeito estufa: essa conta fecha?

22/01/2021

A equação matemática que envolve o setor de lácteos é positiva? Como se relacionam as variáveis de produção de leite, indústria de laticínios, consumo e efeito estufa? 

O setor de alimentos assume um papel de suma importância: nutrir uma população global crescente! Este desafio se torna ainda maior quando, além de oferecer alimentos, é necessário aliar a oferta à demanda dos consumidores e do próprio planeta. No setor de lácteos não é diferente! As indústrias de laticínios enfrentam obstáculos em toda cadeia de produção, desde a obtenção do leite até a logística de transporte dos produtos acabados.

Então, podemos nos questionar: qual é a melhor saída?

Nesta perspectiva, as chamadas dietas sustentáveis são uma alternativa. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as dietas sustentáveis são definidas como aquelas “com baixo impacto ambiental, que contribuem para a segurança alimentar e nutricional e à vida saudável para as gerações presentes e futuras. Dietas sustentáveis devem proteger e respeitar a biodiversidade e os ecossistemas, culturalmente aceitável e acessível, economicamente justa e acessível; nutricionalmente adequada, segura e saudável; além de otimizar os recursos naturais e humanos.” Nesta contexto, Gregory Milher — Diretor do Conselho Nacional de Laticínios, ministrou a palestra “O valor dos lácteos em um sistema alimentar saudável para a nutrição e a saúde” no Dairy Vision 2020.

Durante sua apresentação, Gregory expôs números relacionados ao setor lácteo dos EUA, sustentabilidade e nutrição. “Sistemas alimentares são complexos e há muitas dimensões de mecanismos e feedbacks envolvidos. Precisamos levar em conta essa complexidade e como consideramos a sustentabilidade alimentar”, disse Miller.

“Outro desafio é que devemos considerar que as pessoas têm diferentes necessidades nutricionais devido a uma variedade de fatores, incluindo gosto e conveniência, poder de compra, condições médicas, idade, gênero, medicação ou uso de suplemento, níveis atividade física, alergias ou intolerâncias e preferências culturais, localização geográfica e acessibilidade.  Isso significa que as dietas alimentares sustentáveis serão diferentes em todo mundo e até em um único país”, ressaltou Miller.

Os números: vamos a eles!

Ao final de sua apresentação, Miller expôs dados que relacionam o setor de lácteos dos EUA com as questões ambientais do país:

  • Estudo recente da Virginia Tech University

Mostrou que a redução de laticínios do sistema alimentar dos EUA tem pouco efeito na diminuição de GEE’s. De acordo com o estudo, a agricultura produz 10% das emissões de GEE’s, sendo que os laticínios representam menos de 2%. Além disso, os dados demonstram que a remoção de laticínios resultaria em uma redução menor que 0,7% nas GEE’s no país.

  • Análise de dados de 2005 a 2015 da FAO

Revelou que as emissões GEE’s pelas indústrias de laticínios aumentaram cerca de 18% devido ao crescimento de 30% na produção. No entanto, em relação à produção de leite, representada peça quantidade de gases emitidos em kg dividido pelos kg de leite produzido, houve uma diminuição de cerca de 11% globalmente.

setor contribuiu com cerca de 4% dos GEE’s totais, incluindo as emissões associadas com produção de leite, processamento, produção de embalagem, atividade de transporte, bem como as emissões de carne de animais relacionadas a laticínios.

  • Estudo de Jude Capper e Roger Katie

Descobriram que em comparação a 2007, a produção de um galão de leite em 2017 exigiu quase 25% a menos de terra, 30% menos de água junto com uma redução de 19% do impacto deixado pelo carbono.  “Embora o setor de laticínios venha apresentando progressos, continuamos a definir metas mais elevadas para um impacto ainda menor”, disse.

Lácteos e perfil nutricional

Miller também ressaltou a rica e exclusiva composição de nutrientes do leite e derivados, seus benefícios para a saúde e realizou uma comparação dos lácteos com as alterativas não lácteas. "Muitas vezes escutamos de críticos de laticínios que é fácil substituir os nutrientes encontrados no leite por vegetais e folhas verdes, a realidade é que você tem que comer 36,5 xícaras de couve crua para obter a quantidade equivalente de cálcio que você obteria em 3 porções de leite”, pontuou.

Em virtude do perfil único nutricional dos lácteos, Miller explanou que as três últimas edições das diretrizes dietéticas dos EUA recomendaram três porções de laticínios como leite, queijo e iogurte para aqueles 9 ou mais anos de idade.

No ano de 2012, o relatório do Dietary Guidelines Advisory (DGA), concluiu que há uma evidência moderada que indica que a ingestão de leite e produtos lácteos está associada a uma redução no risco de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.

O relatório de 2015 declarou que o consumo de lácteos confere vários benefícios a saúde, incluindo menor risco de diabetes, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares e obesidade. Neste ano de 2020, o relatório reforça novamente a relação benéfica de lácteos com a saúde humana. 

“Os laticínios são um poderoso pacote de nutrientes, tendo um denso perfil nutricional, dificultando sua substituição. Além disso, é preciso consumir mais calorias e gastar mais dinheiro para obter as quantidades nutricionais de lácteos provenientes de fontes alternativas”, ressaltou Miller.

Planos para o futuro: próximos passos

“Nossos próximos marcos são grandiosos, o nosso maior é alcançar a meta “Net Zero” até 2050. A Comunidade de laticínios dos EUA está utilizando sua competência coletiva e inovação para atingir um ambicioso 2050 ao invés de metas relacionadas a gestão ambiental”, destacou Miller.

Primeiramente, Miller disse que o setor lácteo dos EUA quer se tornar carbonos-neutros com base na ciência e tecnologia de atual e inovação futura. Em segundo lugar, “vamos otimizar o uso da água, e ao mesmo tempo, maximizando a reciclagem. Estamos trabalhando com produtores de leite para ajudá-los a tomar as melhores decisões de gestão da água sob medida para cada um em suas propriedades”.

 Em terceiro, “vamos melhorar a qualidade da água, otimizando a utilização de nutrientes do esterco. Isto destaca a interconectividade do manejo de nutrientes e esterco, saúde do solo e qualidade da água”, finalizou Miller.

“As metas de gestão ambiental 2050 refletem nosso trabalho nos EUA. Trabalho este que continuará e conectará com a ampla indústria global do cenário da sustentabilidade de laticínios. Este cenário inclui onze critérios chave de sustentabilidade que abrangem os 4 domínios dos sistemas alimentares saudáveis”.

Ele pontuou que nos EUA, o setor tem uma gestão responsável assegurada pelos os fazendeiros ou pelo programa Farmers, Assuring, Responsible e Management (FARM). “Este é um esforço colaborativo em toda cadeia de abastecimento para empoderar os fazendeiros que trabalham com laticínios, na agregação de valor com recursos e diretrizes, para melhores práticas responsáveis de cuidados com animais, administração de antibióticos e ambiental, desenvolvimento da força de trabalho e outras prioridades que estão em sintonia com a abordagem de 4 domínios de dietas sustentáveis”.

Este texto foi feito com base na palestra do Gregory Milher no Dairy Vision 2020, evento que realizou sua primeira edição on-line entre os dias 1 e 4 dezembro e contou com 30 palestras com palestrantes de 14 países diferentes, proporcionando aos 350 participantes uma experiência e visão global do setor de lácteos.

Fonte: milkpoint